Aconteceu: você não faz mais parte da empresa. Anunciada ou inesperada, a demissão marca o fim de uma relação que, boa ou ruim, trazia benefícios: salário, familiaridade, propósito, status.
Essa mudança traz consigo todo um mar de fatores urgentes com os quais se tem que lidar imediatamente, e no qual frequentemente as pessoas se afogam. Veja aqui o que fazer para que isso não aconteça, e para aumentar as suas chances de dar a volta por cima:
Mantenha a dignidade.
O choque dos primeiros momentos da demissão pode fazer com que uma pessoa tenha reações diversas, que vão desde a súplica até o arremesso de objetos aleatórios.
Lembre-se da palavra chave: REPUTAÇÃO. Você só tem uma, e ela é construída a cada instante, especialmente nos momentos de pressão. Portanto, como você reage no momento da demissão vai definir como você é visto pelo mercado. Já imaginou ser conhecido como aquela pessoa que gritou “Fo**-se! Vocês não valem nada,” rasgou a roupa e saiu correndo pelada pelos corredores?
Procure entender os motivos por trás da demissão, para obter um feedback que você posa usar mais tarde, mas não estenda essa conversa. Por hora, a decisão está tomada. Recolha as suas coisas e vá cuidar de você.
Prepare-se: montanha russa de emoções!
Permita-se 24 horas (e não mais do que isto) para o impacto sucessivo de emoções sortidas que são normais em momentos assim:
- Raiva: o sentido de injustiça, e a crítica a como as coisas vinham sendo conduzidas (“Esse bando de incompetentes não sabe o que está fazendo! Eles vão afundar a empresa, quer ver só?”)
- Frustração: a sensação de que você não conseguiu transmitir a sua mensagem dentro da empresa (“Eles não estão vendo o que eu estou vendo. Eles não conseguiram entender o meu ponto de vista. Será que há alguma outra coisa a fazer?”)
- Culpa: a vontade de dar um CTRL-Z, desfazendo uma situação crítica específica do qual você tenha sido protagonista (“Eu não acredito que eu fiz aquilo! Onde eu estava com a cabeça? E se eu tivesse feito as coisas de outra forma?”)
- Amizadezinha: querer ser todo amiguinho de quem te demitiu, compreendendo seu ponto de vista e ajudando-o em tudo o que ele precisar. Trata-se de uma forma velada de barganha (“Se ele ver como eu sou legal, perceberá seu erro e me contratará de volta.”)
- Medo: da perda de salário e de chão (“E agora, o que é que eu vou fazer da vida? Como vou pagar as contas?”)
- Vergonha: querer esconder a sua demissão (“O que os outros vão pensar? Melhor eu não mudar meu status no Linkedin, senão vão achar que estou desesperado.”)
- Anestesia: olhar o vácuo sem pensar em nada dá um alívio temporário à angústia da situação. É interessante para deixar os seus motores esfriarem um pouco, mas há de se tomar cuidado para que isso não vire uma espiral depressiva.
- Alívio: agarre-se a esta emoção. Ela traz a clareza da realidade amarga que se estava vivenciando e da qual você se livrou, e permite que você vislumbre todas as possibilidades em seu horizonte. É a emoção mais produtiva neste momento.
Reveja suas finanças
É chatinho, mas imperativo: faça uma análise completa e minuciosa dos seus gastos atuais, das suas economias e do quanto você espera receber na rescisão do contrato. Coloque tudo em uma planilha de fluxo de caixa com projeção para pelo menos um ano. Há diversos modelos disponíveis na internet. Isto é vital porque te dará a medida da urgência que você tem para encontrar um trabalho novo, para reduzir gastos, para priorizar as suas ações. Esqueça, neste momento, aquilo que você merece – férias, comprinhas, baladas – e concentre-se naquilo que você precisa para sobreviver. Se necessário, contrate um consultor financeiro.
Organize suas idéias e seu propósito
A tendência é sair atirando para todos os lados. Evite isto, pois transmite ao mercado a imagem de uma pessoa desesperada e sem foco, o que, convenhamos, não é atraente para ninguém. Aproveite: este é o momento perfeito para você rever os seus objetivos de carreira e de vida, fazendo um levantamento dos seus pontos fortes, das suas fraquezas, daquilo que você pode fazer para melhorá-las, e principalmente de onde quer chegar a partir disso. Em outras palavras, esta é a oportunidade para você dar uma virada na sua vida. Há serviços de coaching e deorientação personalizada que podem ajudá-lo, e muito, neste momento tão especial.
Parta para o ataque
Uma vez que você tenha feito uma revisão dos seus talentos e objetivos, é chegada a hora de abordar o mercado. Para tanto:
- Atualize seu currículo. Ele é a sua propaganda perante o mercado. Reformule-o, tornando-o mais atraente para recrutadores. Capriche. Se quiser, peça ajuda para que ele fique da melhor forma possível.
- Redes sociais. Atualize Linkedin, Facebook, Twitter e afins. Faça uma faxina geral. Já era importantíssimo você tomar cuidado com as fotos que são postadas de você e com as frases de efeito que, naquela hora, pareciam engraçadas, mas que agora podem depor contra você aos olhos de um recrutador. Reveja tudo isso, levando em conta a imagem que você precisa projetar. Se necessário, peça para os amigos apagarem aquela sua foto com um poste em uma mão, uma garrafa suspeita na outra, e um fio de baba no canto da boca. Foi divertido, mas só vai te atrapalhar agora.
- Sites. Há vários sites excelentes para busca de empregos. Aproveite-os, tendo a paciência de preencher todos os requisitos da melhor forma possível. Evite sites que cobram dinheiro pelo cadastro e a busca de vagas no seu banco de dados. Essa é uma prática comum mas muito mal vista no mercado.
- Headhunters. Se puder, reúna-se com um headhunter que tenha conhecimentos específicos do mercado em que você atua. Estes profissionais costumam ter acesso a vagas que não são publicadas, personalizando o processo de seleção – o que é vantagem para o candidato e para a empresa.
- Empresas. Faça uma lista das suas empresas dos sonhos. Por que elas são tão legais assim? O que você pode oferecer a elas? Verifique no site dessas empresas se há alguma vaga disponível. Cadastre-se. Descubra se você conhece alguém nessas empresas.
- Network. De longe, esta é a ferramenta mais poderosa para encontrar um emprego novo. Reestabeleça contato com as pessoas que você conhece, e fale a elas sobre sua busca. Peça ajuda, e ela virá. Lembre-se:
- email personalizado é melhor que email genérico;
- telefonema é melhor que email personalizado;
- encontro pessoal – café, almoço – é melhor que telefonema.
- Considere novas opções. E se, em vez de você procurar outra empresa, você construísse o seu próprio emprego, explorando um nicho novo? É um caminho tortuoso e arriscado, que requer pesquisa, organização e empenho, mas onde você tem a possibilidade de finalmente fazer aquele trabalho com o qual você sempre sonhou, e ganhando bem para isso. Já imaginou?
Uma última #DicaDourada:
Dê-se conta que a ação é muito melhor que a paralização. Lembre-se de avaliar periodicamente o seu progresso, o que lhe ajudará a perceber que você é um ser capaz de fazer as coisas, o que dará muito mais confiança e gás para fazê-las do que ficar parado, agonizando. Mãos à obra!
Retirada de: https://www.linkedin.com/pulse/kit-de-emerg%C3%AAncia-para-quem-acaba-ser-demitido-maria-clara-whitaker